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Primavera silenciosa – Leite materno, alimento da vida, contaminado por agrotóxicos

Na época que eu estava na faculdade realizamos um trabalho mostrando que muitos alimentos continham quantidades elevadas de produtos químicos utilizados como agrotóxicos, meados do ano de 1994, naquele tempo já era possível identificar contaminações de alimentos. Em 2010 pesquisadores realizaram estudos, que foram divulgados recentemente, identificando agrotóxicos no leite de mães que residem no município de Lucas do Rio Verde em MT, o leite materno que deveria ser puro, tem produtos químicos que podem ser nocivos a saúde do bebê.

Muito antes, a bióloga Rachel Carson no livro Silent Spring (A Primavera Silenciosa), lançado em 1962, mostrou como o DDT penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem (chegou a ser detectada a presença de DDT até no leite humano!), com o risco de causar câncer e dano genético, seu livro promoveu uma verdadeira revolução em defesa do meio ambiente, mas hoje, quase 50 anos depois os problemas advindos do uso destes produtos ainda afetam os seres humanos.

Agrotóxico em leite materno

Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), defendido por Danielly Cristina de Andrade Palma, foi impactante.

Danielly, defendeu dissertação “Agrotóxico em leite materno de mães residentes em Lucas do Rio verde – MT”, sob a orientação do professor Wanderlei Antonio Pignati.

Amostras de leite coletadas de 62 mães, 3 delas da zona rural, atendidas pelo programa saúde da família entre a 3ª e a 8ª semanas após o parto.

Ao analisar as amostras, foi encontrado agrotóxicos no leite que produziam para seus filhos, simplesmente em todas.

Além disso, mais de 80% delas apresentaram mais de um tipo destes produtos químicos, digo mais, teve caso de mulher que gerou leite para seu bebê com 6 tipos de agrotóxicos.

agrotóxico no leite materno estudo realizadoSe os níveis ingeridos forem altos os problemas podem ocorrer imediatamente, se os níveis forem baixos e cumulativos os problemas podem vir no futuro, conforme relata a Danielly:

A alimentação é uma das principais vias de exposição. Mas, por se tratar de clorados, que já tiveram seu uso proibido.

Então, eu posso dizer que o ambiente é o que está expondo, porque também se acumulam no ambiente.

No caso da deltametrina e do endossulfam, que ainda são utilizados, o uso atual deles é que está causando a contaminação.

Mas, nos usos passados [dos agrotóxicos agora proibidos], a causa provavelmente foi a exposição à alimentação — na época em que eram utilizados — e o próprio meio ambiente contaminado.

A Portaria nº 357/71, proibiu em todo o território nacional o uso de inseticidas organoclorados em controle de pragas em pastagens e em 1985 proibiu organoclorados destinados à agropecuária.

Sendo que em 1995 a OMS recomendou uso apenas para combate a mosquitos vetores de malária e outras doenças transmitidas por artrópodes.

A maior contribuição de A Primavera Silenciosa foi a conscientização pública de que a natureza é vulnerável à intervenção humana.

Claudio D’Amato e colaboradores fizeram em 2001 um levantamento geral sobre o DDT – toxicidade e contaminação ambiental, explicam que o diclorodifeniltricloroetano (DDT) é o mais conhecido dentre os inseticidas do grupo dos organoclorados.

Estes pesticidas incluem os derivados clorados do difenil etano (onde se inclui o DDT, seus metabólitos DDE e DDD, e o metoxicloro); o hexaclorobenzeno (BHC); o grupo dos hexaclorocicloexanos (a-HCH, b-HCH, d-HCH e g-HCH ou lindano); o grupo dos ciclodienos (aldrin, dieldrin, endrin, clordano, nonaclor, heptaclor e heptaclor-epóxido), e os hidrocarbonetos clorados (dodecacloro, toxafeno, e clordecone).

O DDE um metabólito do DDT, este causa infertilidade masculina, além de abortos espontâneos.

Vale lembrar, um relato da pesquisa, quase 20% das mães já sofreram abortos anteriormente, DDE, foi o elemento mais encontrado no leite materno analisado.

As pesquisas devem ser vistas como mecanismos desencadeadores de soluções, de tomadas de novas posições frente ao atual modelo que esteja causando um problema para a população, assim os gestores deveriam atuar.

Caso contrário, estarão caminhando na contramão do que escreveu Rachel Carson em A Primavera silenciosa, na contramão do que o mundo está adotando, soluções ecologicamente corretas.

Este caso relatado acima, sobre a presença de organoclorados no leite materno, não foi um fato isolado, estudos realizados em outras localidades do país também revelaram números alarmantes de contaminação.

Marli P. Oliveira e colaboradores em Londrina – Paraná, Maria Auxiliadora e colaboradores em Cuiabá – Mato Grosso e Mesquita em 2001 no Rio de Janeiro.

Espero que meu filho tenha sorte diferente da nossa e os filhos dele possam ter a chance de viver em um planeta com um pouco menos inseticidas danosos aos seres humanos, visto que, os produtos químicos que aqui estão ficarão por, pelo menos, mais 30 anos.

Silvano Vilela
Silvano Vilelahttps://www.plugbr.net/about/
Farmacêutico Bioquímico. Escreve sobre exames laboratoriais, testes de farmácia e tecnologia em saúde. Compartilha neste site que fundou em 2006 as experiências adquiridas dentro de um hospital.

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